O Brasil vive um momento crucial em relação ao seu futuro como nação. Ao mesmo tempo em que alcançou índices econômicos expressivos, disputando com o Reino Unido o posto de sexta maior economia do mundo, vê seus estudantes entre os de pior desempenho no mundo, sempre nas últimas posições nas avaliações internacionais de proficiência em Matemática e domínio da língua materna. Essa situação, se não for alterada rapidamente, terá consequências muito negativas tanto para nossos jovens, que ficarão para trás na disputa por vagas de emprego em um competitivo mercado global, quanto para todo País, que não conseguirá desenvolver todas as suas potencialidades.
Para enfrentar esta situação, o Brasil tem de firmar um compromisso em prol da Educação que envolva escolas, governos, sociedade civil e, principalmente, as famílias – diversos estudos mostram que o ambiente familiar, tanto quanto as escolas, tem um papel preponderante no desempenho educacional das crianças e jovens. Os pais brasileiros precisam cobrar, fiscalizar e estar sempre atentos à rotina escolar dos jovens, estimulando-os culturalmente. A força de uma família que apoia a escola e prestigia o conhecimento pode catapultar a vida escolar de uma criança.
O que buscamos é uma elevação do nível de cidadania do ensino, pelo qual as famílias cobrariam mais a escola pública, seus gestores e educadores. Por mais estranho que isso possa parecer, cerca de 80% dos pais brasileiros estão contentes com a escola pública. Será que eles também estariam satisfeitos da mesma forma com a nossa seleção de futebol, se ela estivesse na posição 50, 60 dos rankings esportivos? Temos de nos espelhar no exemplo dos pais orientais, que têm o costume de cobrar e fiscalizar de perto a rotina escolar dos filhos. Um dado interessante mostra que apenas 2% das famílias paulistas têm ascendência oriental, mas 13% das vagas na USP são preenchidas por descendentes de orientais – o que significa que eles têm um desempenho 6,5 vezes melhor do que os outros no vestibular mais disputado do País. E isso não significa que eles são mais inteligentes: uma criança oriental não nasce mais disciplinada, organizada, perseverante, caprichosa, dedicada aos estudos. Ela aprende a ser assim de acordo com as expectativas que o meio social exige dela.
Desde o início deste ano estamos implantando na Educação de São Caetano a cultura da dedicação aos estudos, a cultura do fazer bem feito. Não podemos continuar tratando nossas crianças como coitadinhas, lamentando quando a escola aumenta o volume de tarefas ou começa a aplicar provas mais difíceis – duas medidas que estamos adotando para aumentar a força do ensino. Nós queremos que nossos meninos e meninas alcancem o melhor de si mesmos, com muito esforço, e isso não será possível sem o apoio firme dos pais, das famílias. Não tem outro jeito: ninguém vai conseguir o máximo exigindo o mínimo, e as escolas brasileiras estão exigindo o mínimo dos estudantes.
O que o Brasil precisa é de famílias que apoiem esse esforço pela melhoria no ensino, colocando-se ao lado dos educadores nesta cruzada pela Educação. A boa escola é exigente com seus alunos, assim como os pais têm de ser exigentes em relação aos seus filhos e educadores. E certamente esses jovens agradecerão o empenho familiar no futuro, quando frequentarem as melhores universidades e conquistarem os melhores empregos.
Daniel Belluci Contro é professor de história e conta com mais de 25 anos de experiência na área da educação, com passagem pelo sistema público estadual como professor e, na esfera do ensino privado, em todos os níveis, como professor, coordenador e gestor. Foi diretor de Educação na gestão do ex-prefeito Luiz Tortorello (1989-1992). É membro da Academia de Letras da Grande São Paulo, ocupando a cadeira de número 34.
