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Cineasta Domingos Oliveira morre aos 82 anos

Ele estava em seu apartamento no Leblon quando passou mal, na tarde deste sábado (23)

  • Data: 24/03/2019 08:03
  • Alterado: 24/03/2019 08:03
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: Estadão Conteúdo
Cineasta Domingos Oliveira morre aos 82 anos

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O cineasta Domingos Oliveira morreu às 14h deste sábado, 23, enquanto trabalhava em seu computador, no apartamento em que vivia no Leblon. Aos 82 anos, ele estava bem até que sentiu sintomas de uma pressão baixa, teve tonturas e pediu que uma ambulância fosse chamada. Ele estava ao lado de sua produtora Renata Pascoal e escrevia para a série Confissões de Mulheres de 50.

Ator, diretor, dramaturgo, cineasta, roteirista, poeta, chegou a fazer duas assistências de direção para Joaquim Pedro de Andrade (Manuel Bandeira, O Poeta do Castelo e Couro de Gato). Seu primeiro longa veio em 1966, com Todas as Mulheres do Mundo, e depois mais de 20 peças e muitos filmes se sucederam. Por alguns anos, ele esteve à frente de programas no Canal Brasil, que gostava de chamar de jornalismo autoral. Alguns deles eram Todas as Mulheres do Mundo, Todos os Homens do Mundo e Swing (assinados com sua companheira, Priscilla Rozenbaum).

Seus filmes, além de comprovar a eloquência com que Oliveira encarava a vida e os amores, representam também dois momentos de sua carreira. De um lado, os primeiros trabalhos, Todas as Mulheres do Mundo e Edu Coração de Ouro. De outro, exemplos de sua retomada pessoal, depois de 20 anos sem filmar: Amores e Separações. “Na verdade, ainda que um bom tempo separe uma dupla da outra, os quatro filmes mostram que nada mudou em meu cinema”, brincou ele, em conversa com o Estado. “Em todos, há revelações explícitas ou disfarçadas – na verdade, tentativas de me superar.”

A frase não é de efeito. Todas as Mulheres do Mundo, por exemplo, rodado em 1966, marcou a estreia de Oliveira como diretor: antes só fizera assistência a Joaquim Pedro de Andrade. E o filme nasceu de uma necessidade impossível de se corrigir o destino. Afinal, a história do encontro entre dois amigos, Edu e Paulo, representa o próprio relacionamento entre Oliveira e a atriz Leila Diniz, que atingiu o estrelato. “Já estávamos separados quando escrevi o roteiro. Na verdade, o filme era uma tentativa de reencontrá-la”, relembrou Oliveira que, na época, tinha outro projeto em mente. Seria um filme chamado D. Juan 66 e que reuniria duas histórias, Edu Coração de Ouro e Todas as Mulheres do Mundo.

 “A segunda tomou a dianteira.” Todas as Mulheres do Mundo conquistou um enorme sucesso, faturando o triplo de seu investimento inicial – que, aliás, contou com a contribuição de atores e equipe técnica, todos fazendo empréstimos bancários para comprar cotas da produção. Trata-se de uma comédia de costumes sobre as aventuras de um rapaz (Paulo José) que paquera as belas mulheres das praias cariocas. Na contramão do cinema brasileiro de então, marcado por produções engajadas, o filme revelava uma nova forma de amar e, principalmente, uma nova mulher.

Domingos Oliveira ficou vários anos sem rever o filme, especialmente depois da trágica morte de Leila, em 1972, em um acidente de avião. O momento aconteceu depois de uma terapia em grupo, quando todos assistiram ao longa. “Foi aí que chorei a perda dela.” Edu Coração de Ouro foi lançado em 1968 e segue a mesma linha narrativa, contando as aventuras do personagem-título, um conquistador e gozador da vida, novamente interpretado por Paulo José. Inspirado em um amigo do diretor, Eduardo Prado, o filme foi um fracasso de público e só anos depois foi reconhecido pela crítica, que só então notou em Edu o retrato de uma geração perplexa com os rumos tomados pelo governo militar.

A estrutura é praticamente a mesma do longa anterior, com adoráveis congelamentos de imagem logo em seu início: Leila na praia, Paulo José no calçadão. O diretor continuou filmando até 1978, quando rodou Vida, Vida. As dificuldades de produção, porém, desencantaram-no a ponto de convencê-lo a debandar para outras artes, especialmente o teatro. Assim, ele encenou clássicos de Gogol, Molière, Ibsen, Arthur Miller e do seu “pai espiritual”, Dostoievski, a quem recorreu mais de uma vez nos diálogos de Amores, filme que marcou, em 1998, seu retorno ao cinema. A volta foi possibilitada especialmente pelo barateamento de custos graças aos avanços tecnológicos.

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